quarta-feira, 18 de maio de 2016

... a bailarina

"Incorpórea, a claridade da manhã dança. Quem não terá visto na claridade da manhã, na dança perfeita que é a metamorfose, uma pluralidade de figuras que, desenhadas e desdenhadas, não se corporizam, transformando-se infatigavelmente? Nascem e desfazem-se, enlaçam-se e retiram-se; escondem-se para reaparecer como faz o homem a jogar quando é criança, ou quando joga com esses jogos em que a infância se eterniza."
María Zambrano, O Homem e o Divino
*(da série 'No Ver- do Olhar')

terça-feira, 10 de maio de 2016

... está escuro

"... está escuro, diz Elvira, acenda o texto, respondo-lhe"
Maria Gabriela Llansol, 'Onde vais, drama-poesia?'
*(da série 'No Ver- do Olhar')

... humanidade costumada

"Soam — devem ser oito as que não conto — badaladas de horas de sino ou relógio grande. Acordo de mim pela banalidade de haver horas, clausura que a vida social impõe à continuidade do tempo fronteira no abstrato, limite no desconhecido. Acordo de mim e, olhando para tudo, agora já cheio de vida e de humanidade costumada, vejo que a névoa que saiu de todo do céu, salvo o que no azul ainda paira de ainda não bem azul, me entrou verdadeiramente para a alma, e ao mesmo tempo entrou para a parte de dentro de todas as coisas, que é por onde elas têm contato com a minha alma. Perdi a visão do que via. Ceguei com vista. Sinto já com a banalidade do conhecimento. Isto agora não é já a Realidade: é simplesmente a Vida."
Fernando Pessoa, Livro do Desassossego.
*(da série 'No Ver- do Olhar')